quarta-feira, 1 de junho de 2011

Capítulo 9 - À minha MÃE

Nos seu olhos vi-me refletida tão claramente quanto num espelho d'água. Felipe estava imóvel. Apenas olhando. Como se fosse um médico, um clínico à espera de um diagnóstico. Nada pude fazer, apenas levantar. Ele me olhou mais atentamente, e percebeu que minha calça, na região do joelho, sangrava.

- Ana! Seu joelho!

- Hã, o que? (olhei para baixo) Nossa!

- Você precisa de ajuda? Tem uma torneira ali, vamos, precisamos lavar isso aí!

Bem, a essa altura já tinha perdido o ónibus da escola. Agora tinha que explicar à minha mãe a minha falta. Felipe segurou meu braço e o pôs sobre seu ombro. Ele me levou ladeira acima, até a casa dos Kanfi (uma família japonêsa). Ao chegarmos a Sra. Kanfi estava regando o imenso jardim de petúnias. Felipe pediu para usar a torneira acoplada na mangueira. Fui mancando pelo gramado úmido apoiada em seu ombro até a torneira.

Não precisou muito. Apenas lavar o arranhão. Após parar de sangrar eu cobri o joelho com a calça que estava dobrada até a minha coxa.

- Pronto! Lavado e seco!

- Acho que já posso andar sozinha. Obrigada.

- Que nada, disponha! (risos)

- Bem, já perdi meu ônibus. Vou voltar pra casa. Tenho que ajudar minha mãe à arrumar a casa.

- A tá! Se cuida então. Você vai ligar o computador à noite?

- Acho que sim.

- Então eu te acho lá! Tenho que pegar o meu ônibus para faculdade, antes que eu o perca! Tchau!

- Tchau! (risinhos)


Aí que constrangedor. Fui mancando igual uma pata ladeira abaixo. Minha camiseta estava cheia de areia e algumas folhas. No caminho de volta vi o que me fizera cair. Eram bolinhas de gude. AAAAAAAAAAAAAA. Que raiva! Opa, pera aí! Aqui não havia crianças. Como essas bolinhas vieram parar no meio da rua? Eram bolinhas azul escuro, por isso não as vi. Para análise posterior, eu as coloquei no bolso do blusão. E continuei a descer.

Já na porta de casa peguei a chave e abri a tranca. Na sala estava Matheus vendo o jornal matutino. Na cozinha minha mãe batia suco de fruta no liquidificador, e meu pai estava se aprontando para descer e tomar café. Que dia feliz! Que mentira...

Minha nãe se espantou com a minha súbita entrada. E mais espantada de me ver suja e de cabelos emaranhados.

- O que aconteceu filha? ( já vindo ao meu encontro)

- Nada mãe, só caí na rua, não foi nada. (nada? Nada não era bem a palavra, era mais assim: eu caí e cortei o joelho, mas ainda tô viva!)

- Ah minha filha, você pode pegar uma infecção! Vou preparar um banho bem quentinho para você lavar essa ferida. Depois a mamãe vai fazer um corativo e você vai ficar de cama hoje!


Ah mães. Não se pode viver sem elas!