quarta-feira, 8 de junho de 2011

Capítulo 10 - Águas mornas


Enquanto a água da banheira não esquentava eu fiquei sentada na cozinha com um copo se suco na mãe esquerda. Meu irmão parecia petrificado. Não esboçava nenhuma reação ou movimento. Ele não gostava de ir ao colégio. Preferia os amigos, bebidas e festas. Eu não o recriminava por isso, mas me sentia mal vê-lo tão disperso e cansado. Parecia sem vida ou alegria. Apenas vendo o tempo passar.

Fiquei sentada pouco tempo. Mas esse tempo foi o suficiente para entendê-lo. Ele só queria outra chance.
Outra chance. Umas mais longa. Mas viva.
Matheus só ficou desse jeito "meio morto" depois que a namorada terminou com ele. Parecia que nunca iria se recuperar. Mas não demorou, e o erro bateu em sua porta. Se afundou na bebida e nas boates. Não dormia mais em casa. Era como um fantasma. Não nos dava mais "bom dia", ou "boa noite". Não sorria mais como antes.

Ouço uma buzina de carro. Na frente se nossa casa. Mas, quem iria à nossa casa tão cedo? Não demorou muito. Meu irmão tratou de pegar sua mochila que estava no chão, perto do sofá, andou pesadamente. Abriu e fechou a porta. Sem dar um "tchau" ou "adeus", foi embora.

Eu não sentia esse sentimento de impotência a muito tempo. Eu queria abraçá-lo e disser "Não vá!" Queria correr em sua direção e puxá-lo para casa. Tentando trazê-lo de volta.
Minha mãe era a que mais sofria com essa situação. Era mãe. E mãe não se engana, não erra e nem se confundi. Ela sabia que essa situação não se resolveria à base de gritos e xingamentos. E sim, pelo arrependimento. Logo logo ele voltaria com lágrimas e a abraçando, e em meio a soluços e prantos, gaguejaria " Mãe, me perdoe."

- Ana! Seu banho está pronto!

Ah irmão! Eu queria que seu passado se lavasse como a água de um chuveiro. Que suas feridas se curassem com a água morna, e que seus erros evaporassem.