terça-feira, 28 de junho de 2011

Capítulo 14 - Apertando as feridas

O almoço exalava um aroma inigualável, que chegava até o meu quarto.

- Ana!

- Já tô indo mãe!

Bem, o mais prudente era eu, primeiramente, almoçar. Coloquei a camiseta e o moletom. Deixei o celular no meu bolso, caso Fabi me enviasse outra mensagem.
Comecei a descer as escadas, na busca pelo aroma exótico que me atraía.

Olhei de um lado para outro.

- O pai já foi saiu?

- Sim querida.

Degrau por degrau. Pé por pé, um de cada vez, a seu tempo e hora.
A sala estava vazia, mas eu sentia que Matheus ainda estava, de alguma forma, ligado àquela sala.
Meu joelho roçava na calça. E mesmo com o curativo, a laceração anã me fazia apertar os olhos.

O dia, o sol começava a se mostrar forte. As persianas da casa foram abaixadas, tamanha era a luz que o astro emitia.

- Mãe...
- Oi!

- Você vai ter que ligar pra escola. Pra justificar a minha falta.

- Ah! Claro querida! Sente-se. Vou por fazer seu prato.

O que senti foi que minha mãe estava fingindo seu sofrimento. Eram nítidas as marcas recentes de choro: bochechas vermelhas, olhos pequenos e vermelhos, nariz vermelho, voz nasal e respiração baixa.

- Mãe?

...

- Você tá bem?

- Sim sim. Não se preocupe comigo. Agora coma, antes que esfrie. Eu vou ligar já pra sua escola.

E ela saiu andando para a sala.